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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Pesquisa nos EUA mostra desculpas inusitadas para filar o trabalho


Foram ouvidos 2.494 gerentes e profissionais de recursos humanos e 3.976 funcionários de empresas de diversas áreas e tamanhos



Priscila Chammas
priscila.chammas@redebahia.com.br

‘Matar’ um parente para filar o trabalho é coisa do passado. Os trabalhadores atualmente andam bem mais criativos. O que você acha de desculpas como “Meu dedão ficou preso no ralo” ou  “O corpo de minha avó está sendo exumado para uma investigação policial”? Essas e outras pérolas fazem parte de um estudo da empresa de pesquisa Harris Interactive, nos Estados Unidos, sobre as desculpas mais esfarrapadas ditas pelos empregados para faltarem ao trabalho. A pesquisa ouviu 2.494 gerentes e profissionais de recursos humanos e 3.976 funcionários de empresas de diversas áreas e tamanhos. 

Mas quem duvida que os trabalhadores brasileiros conseguem ser ainda mais criativos? O publicitário carioca Renato*, por exemplo, mostra que imaginação não lhe falta. Principalmente quando ele está de ressaca após uma noitada “daquelas de chegar com o dia amanhecendo”. 

“Foi mole. Eu disse que quando fui abrir a porta para sair, a chave partiu e ficou um pedaço na fechadura. ‘Estou tentando um chaveiro!’. Aí, depois de duas horas, liguei de novo, dizendo que o chaveiro chegou, mas teria que trocar o segredo da fechadura, porque detonou as molas. Só que, para isso, ele teria que levar o miolo da fechadura, e eu não podia deixar a casa de porta aberta sem ninguém, o que iria demorar mais algumas horas. E ainda tinha que fazer cópia da chave”, contou Renato. 



A pitoresca história inventada por ele acabou dando certo, afinal o chefe não teria como pedir um atestado do chaveiro, não é mesmo? “Outra boa é a do vazamento na torneira da cozinha, mas também já arrumei conjuntivite, dor de barriga...”, diz, rindo do seu estoque de desculpas esfarrapadas, porém bem elaboradas e cheias de detalhes.

O estoque do administrador  baiano Marcelo* não é tão vasto, mas ele também dá seus pulos quando, por motivos tão nobres quanto os de Renato, não pode ir trabalhar. A última vez que aconteceu um “imprevisto” foi no feriadão de 1º de maio, que caiu numa terça-feira. 

“Eu esquematizei uma viagem, só que como foi uma viagem internacional, não valeria a pena voltar no dia 1º. Então comprei a passagem de volta para o dia 2, quarta-feira. Aí, na quarta eu não trabalhei e mandei um e-mail para o chefe dizendo que o voo havia sido cancelado e como não tinha nenhum outro no mesmo dia, só poderia voltar no dia 2, o que me impediria de ir trabalhar”, revela. 



Se o chefe engoliu assim tão fácil, a desculpa?  “Ele perguntou se havia alguma declaração da companhia aérea, mas eu dei uma de ‘João-sem- braço’ e disse que não tinha me atentado para pedir. Aí ficou por isso mesmo”. Coisa feia! Devia aprender com o jornalista Felipe. Ele garante que nunca mentiu para o chefe. Nem no dia em que precisou se ausentar do trabalho por um motivo justíssimo. 

“Eu tinha acabado de entrar em um estágio, mas estava com passagem comprada para ver Santos x Vitória pela final da Copa do Brasil”. O jeito que ele encontrou para não mentir foi deixar a chefe confusa. “Eu disse que estava selecionado para um evento fora do estado que não podia perder de jeito nenhum. Não menti, apenas usei as palavras certas”. 

Ou seja, a chefe não precisava saber que o evento fora do estado que ele não podia perder de jeito nenhum era um jogo de futebol. “O importante é não mentir”, ri. Mas o pior de tudo é que o risco nem valeu a pena. O Santos acabou levando o título e o Vitória foi, com o perdão da palavra, vice.



Perigo 
Se você é empregado, deve ter achado esta reportagem engraçada, até aqui. Mas se você é patrão, vai começar a rir agora, com as histórias de desculpas esfarrapadas descobertas. Os casos que o ex-funcionário de uma empresa de RH, Jorge Santos relata, servem de alerta para os perigos de uma história mal-contada.

“Uma vez uma menina inventou que a tia tinha morrido para não trabalhar numa sexta-feira. Mas passou uns dias, ela voltou a trabalhar e postou fotos de uma viagem no facebook. Só que ela postou da passagem também, com a data e tudo. Foi demitida”, conta. Também foi com uma história pouco criativa e mal amarrada que outro funcionário foi demitido por Jorge. “Ele não foi trabalhar por causa de uma enxaqueca, e levou um atestado. Mas quando fui checar o Cid (código da doença), era de hérnia”. 

Ainda com relação a atestados, outra ex-funcionária de RH, Graziela Costa, diz que outra atitude que costuma deixar os patrões com uma pulga atrás da orelha é quando o funcionário tem o plano de saúde da empresa, mas leva um atestado do SUS “que é mais fácil de conseguir”. Nesses casos, a presidente da Associação Brasileira de RH, seccional Bahia (ABRH-BA), Ana Claúdia Athayde, avisa: “Normalmente a gente começa por advertências, depois suspensões e, por último, a demissão por justa causa. Mas em caso de atestado falso, ou mentira descoberta, é comum pular essas etapas e ir direto para a justa causa”. 

E ela completa: “Se o funcionário começa a faltar muito, a dar muitas desculpas, ele é convidado a ir dar essas desculpas em outro lugar, bem longe da empresa”, brinca. 

* nomes fictícios



Nem toda forma de controle é permitida por lei
“Toda vez que recebia um atestado, a empresa que eu trabalhava ligava para o consultório médico, para confirmar se aquele paciente realmente esteve ali. É proibido, mas muitas empresas fazem”, conta o ex-funcionário de RH, Jorge Santos. Sobre o assunto, a advogada trabalhista Ariadne Santana, da BCM Advogados, explica que existem limites legais para investigar se o empregado está falando a verdade. 

“Uma coisa é ele postar no facebook uma foto dele numa festa, quando deveria estar em casa doente. Outra é o empregador ligar para o consultório para saber. É invasão de privacidade. Violação do direito constitucional, e pode até ser enquadrado como assédio moral”, ensina. 

Ela lembra também de um caso em que está advogando. “A empresa relacionou todos os atestados médicos da funcionária na carteira de trabalho. O empregador não pode fazer isso, porque pode desabonar a imagem do funcionário, dizer que ele fica muito doente”, completa. 

Segundo Ariadne, outra atitude que as empresas não podem tomar é recusar atestados médicos, mesmo que o funcionário os apresente com frequência. “Um atestado tem presunção de veracidade, até que se constate irregularidade. Se o empregador desconfiar, não cabe a ele investigar. Ele deve se reportar ao conselho regional de Medicina (Cremeb, no caso da Bahia)”.

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